10 coisas a ter em conta ao começar um podcast

Podcasts Portugal
7 min readJan 4, 2021
Photo by Mike Tinnion on Unsplash

Enquanto não acabo o tradicional sortido de bons episódios de podcasts portugueses em 2020, como já fiz em 2018 e 2019, relanço aqui uma lista de conselhos para quem está a começar ou a planear um podcast, originalmente publicada em duas partes no Subscrito, a newsletter do Público que assino com a Aline Flor e o Ruben Martins.

Diz o cânone que 2020 marcou o 15º aniversário do primeiro podcast em Portugal, nascido em Março de 2005 pelas mãos de Duarte Velez Grilo. Desde então, o número tem crescido lentamente, de modo mais exponencial nos últimos anos. Este ano, nos Prémios Podes 2020, cerca de 420 projectos diferentes receberam votos do público.

É um número saudável, que continua em crescimento, mas ainda há muito por fazer, especialmente em relação a novos géneros — alguns ainda sub-explorados — e a um maior equilíbrio de vozes e representação à frente e atrás do microfone.

Dê por onde der, estamos longe de atingir a saturação; cada novo podcast é uma boa notícia que gostamos de ouvir e todos os recursos para a criação de novos formatos serão úteis.

Há umas semanas falei com um grupo de jovens que se juntava num projecto europeu e que considerava criar podcasts para ampliar as suas vozes e mensagens, alguns deles em países onde o meio está menos desenvolvido do que entre nós. Dessa conversa surgiu uma proposta de 10 considerações a ter para quem começa um podcast, que aqui traduzo e adapto. Toma nota, dá-lhe o valor que achares que merece e diz-me se me esqueci de alguma coisa.

Vamos lá então.

1. Conhece o teu universo.

Há duas principais razões para começar um podcast: existe uma mensagem ou uma perspectiva que queres transmitir, e escolheste o podcast como meio, ou queres começar um podcast e não sabes ainda muito bem o que, ou sobre o que, vai ser. Independentemente da razão, descobre o que já existe sobre o tema (ou, não havendo tema decidido, considera o que podes oferecer que ninguém mais tenha feito). Podes querer dirigir-te a um público nacional, internacional lusófono, internacional noutra língua — ou, porque não, nacional noutra língua –, a uma comunidade ou a um grupo muito restrito de pessoas, como praticantes de um hobby, funcionários ou clientes de uma empresa, ou até à tua família. Seja qual for o âmbito, será esse o teu universo, e é importante saberes onde estás a mergulhar.

2. Pensa bem sobre o podcast.

Já sabes o que queres dizer? Porque é que isso é importante para ti? E para os outros? Qual é o formato de cada episódio, quem mais está envolvido? Qual é o tom? Existem objectivos? Se sim, como os vais atingir? És a pessoa certa para o que estás a planear? Haverá outro formato que faça mais sentido? Pensa bem sobre tudo isto até que tenhas um formato de podcast com que estejas satisfeito.

3. Pensa mais um pouco.

Agora que tens a essência do teu formato, trabalha esse diamante bruto. É o melhor que podes oferecer? O que há de especial no podcast?

A não ser que sejas famoso e já tenhas seguidores, e salvo algumas excepções, “2 ou 3 amigos a falar sobre tudo e sobre nada” provavelmente não será o suficiente.

Também é possível que tenhas complicado demasiado com todo este pensamento, e podes também simplificar. Usa este momento para ter a certeza de que tens uma ideia clara de como será o teu podcast. Como descreverias a tua ideia a uma vizinha que encontras no supermercado?

4. Encontra a tua voz.

Não estou a falar da tua voz de rádio; alguns dos podcasters de maior sucesso não têm um timbre especialmente incrível. Refiro-me ao que trarás ao mundo e qual será a tua perspectiva.

Existem 2 maneiras de tornar um podcast único: pessoas aleatórias sobre coisas especiais ou pessoas especiais sobre coisas aleatórias.

Coisas especiais são tópicos ou situações específicos, interessantes por si só, particularmente para grupos concretos (por exemplo, um podcast sobre jogos de tabuleiro ou sobre uma série de TV). Com pessoas especiais, refiro-me a perfis específicos, como uma celebridade ou um especialista, alguém de uma comunidade ou que tenha passado por uma experiência particular (um humorista fala do seu dia-a-dia ou uma imigrante fala sobre o país para onde se mudou). Pessoas especiais sobre coisas especiais também podem funcionar (como uma nutricionista que fala sobre alimentação), mas pessoas aleatórias a falar sobre coisas aleatórias muito provavelmente perder-se-ão no mar de podcasts que já existem, especialmente em áreas competitivas.

5. Preocupa-te com a técnica, mas q.b.

Começar um podcast pode parecer assustador, talvez porque a conversa se torne por vezes demasiado técnica, mas é muito mais acessível do que provavelmente pensas. Vais precisar de um microfone, de um gravador, de um software de edição de áudio e um local para hospedar o teu podcast. Em primeiro lugar, a maioria dos smartphones com as aplicações certas podem até oferecer tudo isso de graça, portanto nem chega a ser uma desculpa. Mas também não é difícil encontrar informações sobre o que realmente é necessário para além disso, e é provável que precises de menos do que pensas. Para a maioria dos podcasts independentes, a dimensão técnica não é necessariamente o mais importante.

Trocaria todos os dias um podcast com qualidade profissional mas sem muito a oferecer por um bom podcast com um som mediano.

Preocupa-te mais em ter um bom espaço — sem ecos ou barulhos de fundo — e a pronúncia mais clara que conseguires, e metade do trabalho está feito. Assumindo que não tens um estúdio preparado acusticamente, começa com um microfone dinâmico ligado ao computador por usb, que pode ser um baixo investimento com resultados acima da média.

6. Lembra-te do que estás a fazer.

É verdade que não é obrigatório ter um som perfeito, mas ouvir um episódio não pode ser doloroso. Podcasts podem ser arte, mas ao contrário da arte, que pode existir exclusivamente como autoexpressão, este formato só funciona se alguém o ouvir. Não quero dizer que o conteúdo deva ser mudado, ou que tenha de ser um projecto comercial, mas é importante estar consciente de que está alguém do outro lado.

Fala claramente, pronuncia bem as palavras e tenta manter um bom ritmo. Ouve o episódio depois de gravado e decide se tudo precisa lá estar — quantas divagações vão os teus ouvintes aguentar?

Ao contrário do que possas pensar, um bom podcast sem nenhuma edição é uma raridade.

Alguns podcasts (jornalísticos, por exemplo), optam por manter as entrevistas na íntegra. Se for este o teu caso, mantém-te ciente disso durante a gravação, o que também ajudará a seres claro e sintético.

7. Promove o podcast.

Pensa no teu projecto enquanto marca, no perfil que queres desenvolver, como te queres posicionar, e qual a tua proposta. Encontra o teu público — o que nos traz de volta aos pontos iniciais desta lista — , promove o podcast entre pessoas que nele possam estar interessadas e tenta descobrir como deverá ser a tua presença online, incluindo as redes sociais em que fará mais sentido apostar. Grupos temáticos no Facebook e fora dele, eventos específicos, hashtags, outros podcasts e projectos afins, são pensamentos imediatos, mas podes ser ainda mais criativo.

Os números não devem ser a tua prioridade, mas uma comunidade dinâmica e interessada à volta do podcast fará toda a diferença — e os números seguir-se-ão.

8. Gere bem as expectativas.

Se estás a começar um podcast para ganhar fama ou dinheiro, repensa as suas opções. Se ainda não tens um grupo de seguidores, vai demorar muito tempo (se é que algum dia lá chegarás) até que sejas uma celebridade pelo podcast. Muito poucas pessoas ganham dinheiro com podcasts, especialmente num mercado em desenvolvimento como o português. Tudo pode mudar, claro, e é bem possível que o teu seja um caso de sucesso, mas talvez não seja boa ideia partir com essa certeza e contar com o podcast como fonte de rendimento. Deixa-te ir, inova, dá o teu melhor e sonha, mas tenta manter algum realismo nas apostas que fazes.

9. Encontra apoio.

Existem muitas fontes de ajuda e suporte, incluindo outros podcasters, grupos de Facebook, fóruns online, eventos, festivais como o Podes, conferências, etc. Existem até tutoriais online gratuitos e cursos completos que podes seguir sobre podcasting em geral ou elementos específicos sobre os quais queiras ou precises de aprender mais. A comunidade criada à volta da Portcasts é muito prestável e útil, e haverá sempre alguém que consiga ajudar ou mandar postas de pescada.

10. Diverte-te.

Um podcast, especialmente se não for profissional ou se não tiver uma estrutura de apoio, é coisa para dar muito trabalho. Encará-lo como uma obrigação ou uma tarefa (o que acaba por ser inevitável aqui e ali), é pouco sustentável, porque motivação é fundamental. Encontra um formato que te dê prazer fazer e continua a limar o processo até que seja agradável e com o mínimo esforço possível: identifica cada peça que possa estar a obstruir uma engrenagem perfeita e tenta encontrar uma solução mais fluida.

É muito importante encontrar satisfação no teu podcast.

Et voilà, são estes os 10 conselhos que tenho para ti, que resultam de experiência e de algum pensamento sobre o assunto, mas que não ousaria apresentar como uma lista exaustiva nem final, e muito menos dogmática.

Partilha, se concordares e achares que pode ajudar alguém, ou vem debatê-los se achas que estão incompletos ou errados.

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O Portcasts tem um podcast irmão (porque filho do mesmo pai), o Sobretudo, que regressa agora em Janeiro para a terceira temporada. Se te interessar, explora os episódios e subscreve na tua aplicação de podcasts para receberes cada episódio quando é publicado.

Obrigado e até já!

MB.

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